Para muitos pais, a chupeta é um salva-vidas. Pais se desesperam e acabam recorrendo a ela para acalmar o choro do bebê. Às vezes, o problema é o tempo da amamentação. Os bebês procuram muito consolo no colo ou ao seio e muita gente começa a dizer que o bebê está “chupetando” o seio. Outras vezes é para que o bebê fique deitado ou sentadinho sozinho enquanto os pais fazem outras atividades.
Entretanto, a chupeta é um paliativo de curtíssima duração que, frequentemente, acaba atrapalhando mais que ajudando. Vamos a alguns motivos?

1. Não deixa você ouvir o choro do seu bebê. Sabe quando as mães dizem que conhecem o choro dos seus bebês a distâncias enormes? Como mães de gêmeos reconhecem o choro de um e do outro antes mesmo de vê-los? Como mães dizem que sabem se o choro dos filhos é de fome, sono ou dor? Isso só é possível de uma forma: ouvir o choro dos bebês. Para bebês pequeninos, essa é a única forma de comunicação. Embora a chupeta seja um alívio imediato para os ouvidos dos pais, o que ela faz, na prática, é evitar a comunicação do bebê com vocês. Isso pode ser bastante prejudicial, evitando que a mãe e/ou o pai conheçam as diferentes nuances e necessidades do bebê.

2. Atrapalha a amamentação. Os bebês nascem com reflexo de sucção. Esse reflexo vai diminuindo com o tempo mas, o mais importante é que é um reflexo de sobrevivência! O bebê suga para se alimentar e, no começo, suga o tempo todo. Muitas pessoas ficam desconfortáveis com isso ou com a quantidade de tempo das mamadas e acabam sugerindo que “enrolem” a criança com a chupeta. Só que isso tem consequências graves, principalmente para as mães que querem amamentar. Entre as crianças que usam a chupeta, o índice de aleitamento materno exclusivo é 50% menor do que entre as que não usam. O estudo é muito significativo e realizado com mais de 20.000 bebês brasileiros (ver gráfico).

chupeta e amamentação

3. Atrapalha (e MUITO) o sono. É comum que os adultos achem que a chupeta vai ajudar o bebê a se acalmar e dormir e até pode funcionar como paliativo. O problema é que, na verdade, você está trocando um problema pelo outro. Se antes a criança só se acalmava ao seio, você não está mais ajudando ela a se acalmar. Você está simplesmente arrumando um substituto e diminuindo o contato físico com a criança. Bom, nosso sono se dá em ciclos de sono leve e pesado. Ou seja, todos nós acordamos de madrugada mas, voltamos a dormir logo. Quando a criança usa a chupeta, ela suga até que adormece. Quando entra no sono profundo, relaxa e deixa a chupeta cair. Quando ela acorda de madrugada, tem a necessidade de sugar de novo para voltar a dormir. E lá vão os pais entregar a chupeta. Isso também acontece durante o dia. O bebê vai tirar um cochilo, dorme meia hora e acorda, cheio de sono, chorando, porque não tem a chupeta. Muitos pais que eu atendo têm como único problema de sono, a chupeta. E é uma grande dificuldade convencê-los a deixar de oferece-la a seus bebês porque todos temem o choro. É sempre uma questão do barato que sai caro: os pais oferecem a chupeta para parar o choro imediatamente mas, fazem isso dezenas de vezes ao dia pois o bebê está irritado e choroso de sono o tempo todo. O que percebem quando resolvem jogar a chupeta fora e ajudar seus bebês a se manterem calmos no colo e seio, é que a quantidade de choro reduz drasticamente. Claro que é preciso uma grande dose de paciência e doação para fazer essa retirada. Também não é um processo que se realize de uma hora para a outra, principalmente em crianças maiores mas, é muito benéfica.

Tem muito mais consequências físicas. este artigo do blog Cientista que virou Mãe, traz as consequências para dentição e postura e traça um paralelo com o dedo baseado em evidências científicas.

Algumas Reflexões:

Chupetando!
Um termo que me assombra muito é o termo “chupetando o seio”. Reparem que a chupeta é que substitui o peito. Não existia chupetar antes da chupeta. Se há alguma substituição, é que a criança está “peiteando a chupeta” e não “chupetando o peito”. Todos os filhotes do mundo têm algum reflexo ou instinto que os ajudam a encontrar o alimento. O do ser humano é sugar. E a natureza é absolutamente perfeita. Sinta-se poderosa! Tudo que seu bebê precisa, está em você!!! Pode parecer impossível. Aliás, essa semana, em uma palestra, uma mãe grávida me perguntou: então eu posso decidir não oferecer a chupeta ao meu filho? SIM!!!!! Lembre-se que houve uma época na qual a chupeta não existia.
Quanto ao tempo que a criança mama com força menor, lembre-se que a musculatura deles cansa, assim como a nossa quando nos exercitamos muito. Principalmente quando eles têm menos de 3 meses, é comum que pareça que não estão mamando direito. Respeite o preparo físico do seu filho. Logo isso vai acabar e ele vai mamar de forma mais eficiente. Quando tiver força para isso.

Independência
Alguns pais ficam, em parte por pressão da nossa sociedade, incomodados com o fato do bebê não querer ficar sozinho, querer muito colo ou seio. Mas quem disse que o bebê deve ser independente com alguns meses de idade? Eis a definição de independência: é o estado de quem ou do que tem liberdade ou autonomia. Qual a autonomia de um bebê que não tem sequer coordenação para mexer um membro para onde deseja? Ou que ainda não faz a menor ideia de como o mundo funciona? Sempre traço um paralelo que costuma ajudar os pais a entenderem melhor a situação.
Todo mamífero na natureza, que nasce pronto, poucos minutos depois de nascer, levanta e sai andando ao lado da mãe. Esses são aqueles que, apesar de serem protegidos pelos adultos, não são carregados por eles, certo (praticamente como uma criança de uns 2 ou 3 anos)? O que acontece com filhotes de cangurus, coalas ou mesmo macacos? São carregados até que consigam sair dos colos de seus pais ou membros do bando, por conta própria.
Nós, criamos um pavor de que a criança fique ultradependente e queremos que ela pule etapas. A criança vai tornar-se gradativamente independente à medida que tiver capacidade para isso. Ela não QUER ficar grudada em você. Ela PRECISA disso. Conforme aprender a sentar, terá mais autonomia e vai querer ficar no chão para explorar sozinha. Quando engatinhar, muitas vezes será difícil conseguir que fique no colo. Então, não se preocupe. Não ofereça a chupeta para que fique longe de você. Isso vai acontecer naturalmente se seu bebê tiver suas necessidades atendidas.
Já oferece a chupeta a seu filho? Em entrevista ao programa Vida Leve da Record Paraná, falei sobre a retirada dela. Assista!