Uma das discussões que vem aquecendo os ânimos na blogosfera e nas redes sociais é a chamada “Lei da Palmada”, recentemente rebatizada de “Lei Bernardo”. A sensação é que, enquanto uma grande parcela da população sente-se aliviada em ver a lei aprovada, outra parte ficou desamparada. Pais afirmam claramente que desobedecerão a lei para garantir que seus filhos sejam bem educados e repeitadores da lei.

A insegurança é normal em épocas de mudanças mas, devemos buscar alternativas e, elas existem. Muitos pais já criam os filhos sem palmadas e mesmo sem castigos. Em mais de 20 países, dentre eles, a Suécia, Bulgária, Alemanha, Áustria, Costa Rica, Croácia, Chipre, Dinamarca, Espanha, Finlândia, Hungria, Israel, Letônia, Moldávia, Nova Zelândia, Portugal, Romênia, Ucrânia, Uruguai e Venezuela, já existe legislação contra os castigos físicos e/ou humilhantes.

Nenhum pai ou mãe até hoje me falou que gosta de bater nos filhos. Em geral, os argumentos a favor das palmadas são:

 

  1. Palmada “educativa” não é agressão
  2. Se eu não bater, meu filho não vai ser uma pessoa de bem
  3. Bater é a última opção e eu só bato quando nada mais funciona.

Vamos conversar sobre esses argumentos e sobre as alternativas?

 

Palmada “educativa” não é agressão

Imagine que em um passado não tão distante, os maridos tinham poder, inclusive, de vida ou morte sobre suas esposas. Ainda há homens que acham que é seu direito “corrigir” fisicamente suas companheiras. Por isso, há 10 anos atrás, foi sancionada a Lei Maria da Penha. O mesmo movimento ocorre hoje com as crianças. Se um homem, hoje em dia, segurar sua esposa no meio da rua e lhe der um tapa, todos concordarão (ou pelo menos a grande maioria) que trata-se de agressão, independente da intensidade do tapa. Em compensação, há quem ainda demonstre aprovação quando um pai ou uma mãe dá um tapa em um filho que faz “malcriação” ou “ birra”. Assim, parece que nossa sociedade, mais uma vez usa dois pesos e duas medidas. Dar um tapinha em um idoso que não quer tomar seus remédios ou em uma mulher “desobediente” é agressão. Bater em uma criança, não. A palmada é uma forma de agressão, independente da intensidade do tapa. Se você acredita que não é, é porque é uma agressão amplamente aceita socialmente. Mas, isso está mudando e, tenha certeza de que, em breve, todos ficaremos horrorizados ao ver uma criança ser agredida.

 

Se eu não bater, meu filho não vai ser uma pessoa de bem

É preciso parar para pensar no que estamos ensinando com nossas ações. Bater, não ensina a respeitar. Ensina a ter medo dos mais fortes. Normalmente, o desfecho é um de dois: ou a criança fica submissa morrendo de medo de apanhar e perder o amor dos pais, caso faça alguma coisa errada, ou acaba se revoltando e enfrentando os pais assim que achar que tem força suficiente para isso, sendo, nesse caso, a raiva o sentimento predominante.

Uma mãe que diz que bate para garantir que seu filho respeite as leis não parou para pensar no assunto com muita profundidade. Apenas ouviu esse discurso e repete sem refletir. Qual a porcentagem de criminosos presos vocês acham que apanhou dos pais? Certamente a grande maioria. Aliás, somos fruto de uma geração na qual quase todos apanhamos. Alguns se tornaram pessoas de bem, outros, não. Então, esse argumento não se sustenta. O que faz uma criança se tornar um adulto de bem é saber que suas ações, sejam quais forem, terão consequências e que devemos assumir todas elas. A questão é que essa consequência não precisa ser um palmada e, para falar a verdade, nem tem lógica nenhuma ser uma palmada, já que não tem relação nenhuma com o feito. Por exemplo: se seu filho quebra um brinquedo e você bate nele por isso. O que o “castigo” tem a ver com a ação? Nada! Agora, se eu não reponho esse brinquedo ou ensino meu filho que ele deverá juntar as próximas mesadas para repor, estou ensinando uma consequência lógica. Mas, vou falar um pouco mais sobre esses exemplos práticos.

Há pais que, por exemplo, batem nas crianças que batem nos outros. A criança bate na babá, coleguinha ou professora e, em troca, leva uns tapas. Pare para pensar sobre essa dinâmica por alguns segundos. A criança faz algo que eu julgo errado. Então, eu bato nela. Quando a babá fizer algo que ela não gosta, qual vai ser a reação automática dessa criança? Crianças que apanham também costumam bater nos irmãos mais novos quando esses fazem coisas “erradas” e é absolutamente compreensível que o façam. Afinal, eles não entendem que os bebês ainda não sabem as regras.

Uma pessoa de bem é aquela que considera quais as consequências de seus atos e que considera o sentimento dos outros na hora de realizar esses atos. No que os castigos ajudam nesse panorama? A prioridade deve ser o desenvolvimento da empatia nas crianças.

 

Bater é a última opção e eu só bato quando nada mais funciona.

A verdade é que essa é uma opção que existe para você antes de muitas outras. Provavelmente, se você pensa assim, você apanhou quando criança. Como aconteceu com você, você acha normal, aceitável e tem dificuldade de pensar em alternativas. A partir do momento em que você decidir que não é aceitável bater, as opções vão aparecer. Você vai pesquisar e conhecer outros métodos, como a disciplina positiva, que podem mudar para sempre a dinâmica da sua família. Não é fácil mas, costumo dizer que, quando achamos que é hora para a “última opção” precisamos sair de perto e respirar fundo. Procure pensar como você agiria se estivesse lidando com um adulto. Você não poderia recorrer às palmadas, certo? No começo, esse autocontrole vai demandar muito esforço da sua parte mas, acredite, com o tempo fica muito mais fácil. Se nada mais funciona, é porque você ainda não achou a fórmula correta.

A disciplina positiva pode não ser a forma mais rápida de fazer seu filho ficar quieto, parar de insistir ou obedecer mas é, sem sombra de dúvida, a mais eficaz.

No próximo post vou explicar como a disciplina positiva pode ser implantada na sua casa com alguns exemplos práticos. Você pode ler AQUI!