Quando falamos de disciplina os pais recorrem às mais diferentes alternativas para que os filhos obedeçam às regras da casa ou para evitar as birras.

Nas redes sociais, as discussões são inúmeras e as soluções propostas pelos pais também são as mais variadas.

Na busca de uma solução não violenta, muitas vezes a sugestão costuma ser dizer à criança que a mãe vai ficar triste ou feliz com um determinado comportamento.

Embora já seja um passo na direção correta, essa atitude dos pais ainda me incomoda bastante porque não serve ao principal propósito da criação dos filhos, que deve ser prepará-los para a vida. Eu sei que essa parece a saída mais rápida, mas o objetivo das crianças não deve ser agradar você, e sim descobrir qual suas próprias preferências.

Quando você diz que vai ficar triste com determinado comportamento, seu filho pode achar que, se ele não se comportar da forma que você quer, você não vai gostar tanto dele.

 

Algumas frases que podem denotar chantagem emocional:

  • Ah, que menino(a) feio(a)
  • Assim, mamãe não gosta
  • Mamãe não gosta de criança malcriada
  • Assim vou ficar triste
  • Se você fizer isso, eu vou embora
  • Não vou ficar com você assim

 

Outra forma de chantagem, menos óbvia, é aquela que faz com que a criança se sinta menor pelo que sente

  1. ninguém gosta de quem sente raiva
  2. sentir inveja é feio

 

Em todas essas frases, há a noção do condicionamento do sentimento de amor dos pais. Mas como fazer as coisas de outra forma?

 

Como qualquer hábito, essa mudança vai exigir uma boa dose de esforço dos pais mas, não é só possível, como extremamente benéfica.

Quando seu filho se comportar de forma inadequada, faça com que ele reflita sobre o que está fazendo. Ou seja, se ele bater em alguém, pergunte como se sentiria se alguém batesse nele e se ele gostaria de fazer com que os outros se sentissem daquela mesma forma.

Quando ele fizer malcriação, entenda o motivo dessa malcriação. Pode parecer absurdo, mas na maioria dos casos somos nós que provocamos as explosões das crianças. Ou você nunca percebeu que as crianças costumam ser mais irritadiças com umas pessoas que com outras? O ser humano age com cada pessoa de uma forma, dependendo da dinâmica entre os dois.

Quando você faz chantagem emocional, está, na verdade, sendo autoritário, ou seja, vai fazer assim porque eu quero e para me agradar. Mas será que o motivo precisa ser esse mesmo? Em geral, tudo que pedimos a nossos filhos tem um motivo mais profundo:

-Não suba no armário (porque ele pode cair em cima de você)

-Não corra com o copo na mão (porque ele pode quebrar e machucar você)

-Não coma bolacha agora (porque vai tirar sua fome para o almoço ou porque faz mal)

-Não jogue o brinquedo pela janela (porque ele vai quebrar)

-Não bata nas pessoas (porque vai doer nelas)

E assim por diante.

 

Então, porque puxamos essa responsabilidade para nós mesmos? Isso faz com que, aos olhos das crianças, sejamos monstros autoritários e que não amarão aos pequenos que não se comportem exatamente como queremos, quando, na verdade, poderíamos ser vistos como doces orientadores que ensinam as regras sociais e cuidam para que os menores não se machuquem, mesmo que às vezes tenham que usar uma certa firmeza.

Esses tempos estava dando uma consultoria na casa de um menino muito arredio. Tinha na época 5 anos e estava com a babá. Era daqueles que, frequentemente, “caçava briga”. Em um momento do dia, estávamos no parquinho e ele pegou uma bolacha, me olhou desafiadoramente e disse: eu vou passar minha bolacha no chão.

Eu perguntei calmamente: por quê?

-Porque eu quero.

-Se você passar a bolacha no chão, eu vou ter que jogar ela fora.

-Por quê?

-Porque o chão é sujo e você vai sujar a bolacha. Como gosto muito de você e não quero que fique doente, não posso deixar você comer a bolacha suja.

E o garotinho descontraiu a expressão que tinha no rosto, relaxando nitidamente, e comeu a bolacha sem passá-la no chão.

Eu poderia simplesmente ter dito a ele que ia jogar fora porque estava suja e não podia comer, mas, quando me coloquei no lugar de cuidadora, de doadora de amor, ele respondeu imediatamente se desarmando.

 

Pense nisso. Exponha de forma curta e clara os motivos das suas decisões, os verdadeiros motivos, e não condicione o seu amor. Ele deve sempre estar disponível a seu filho.