Uma conversa que tenho frequentemente com os pais no consultório e nas residências que visito é sobre o choro e o papel dele. Há duas noções mais comuns entre os pais e profissionais:
O que nenhuma dessas linhas considera é que o choro é uma forma de comunicação, além de ser uma forma de extravasar sentimentos.
É bom deixar claro que o recém nascido precisa ser atendido imediatamente e que a criança nunca deve ser deixada chorando desassistida, sozinha em nenhuma idade mas, desde o nascimento, há momentos em que não conseguiremos impedir que o bebê chore. Muitas vezes, só o que poderemos fazer é acolher nossos filhos em seu choro e isso pode inclusive colaborar para nossa intimidade e apego.
A partir dos 6 meses, no entanto, o bebê passa a compreender que os sons que emite geram reações nas pessoas, ou seja, se eu choro, ass pessoas entendem que eu não estou gostando do que está acontecendo. Com isso, passa a voluntariamente imitar o choro para se comunicar. Isso é um processo natural e muito importante para o desenvolvimento da fala apesar de poder ser bem irritante para os pais e cuidadores porque nesse segundo semestre de vida, ouvimos muito choro.
O problema maior é quando começamos a achar que precisamos evitar esse choro e que é nossa tarefa acalmar a criança. Passamos então a evitar a comunicação do bebê, oferecendo chupetas, saculejando ou dizendo cosias do tipo “não precisa chorar”, “não faz assim”, “pra quê isso?”.
Sempre faço uma brincadeira quando converso com os pais com quem trabalho e me perguntam se “é para deixar o bebê chorando”. Digo que não é necessário porque eles choram sem pedir nossa permissão mesmo.
Apesar do tom jocoso, o que quero dizer é que não cabe a nós decidir se o bebê vai chorar ou quando ele vai parar. Cabe a nós apenas estar junto em uma postura compreensiva e disponível emocionalmente enquanto ele estiver chorando. Deixar a criança chorando é bem diferente de permitir que ela chore.
A primeira atitude consiste em deixar a criança sozinha enquanto chora. Essa atitude traz prejuízos para o vínculo de confirança entre pais e filhos e para o instinto da criança, podendo gerar traumas. A criança para de chorar porque desiste. Em sua mente é como se não adiantasse chorar porque ninguém vai socorrê-la. Em crianças mais velhas (a partir de um ano) ignorar o choro passa a mensagem de que não estamos dispostos a ouvir. Isso também pode ferir a relação em família.
Na segunda, os pais ficam por perto, de preferência com o bebê no colo ou próximos, fazendo carinho e, no caso de crianças com mais de um ano, dizendo que estão ali esperando que se acalmem para conversarem. Essa atitude demonstra que você se interessa pelo que seu filho tenta dizer, ou seja, não está evitando ouvir (ignorando ou tentando fazer a criança parar de chorar a qualquer custo), exercita o autocontrole e autoconhecimento da criança e permite que ele coloque os sentimentos para fora, afinal, todos nós sentimos a necessidade de chorar eventualmente e isso pode até fazer bem, certo? E tudo isso, sem a criança se sentir abandonada e sem ferir a confiança que ela tem de que você estará com ela nos momentos difíceis.
Bebês de até 6 meses de idade: sempre devem ir para o colo em caso de choro e precisam de uma certa ajuda para se acalmarem.
Bebês de 6 a 12 meses de idade: ainda só possuem o choro como forma de comunicação, mas já conseguem se acalmar. Então, se seu bebê chorar, fique junto, fazendo carinho e até abraçando e pegando no colo mas sem assumir o papel de acalmá-lo
Crianças com mais de 1 ano de idade: já têm outras formas de comunicação disponíveis mas podem não ter calma suficiente para usá-las. Fique por perto, carinhosamente aguardando que se acalme e mostre ou diga o que quer. O colo sempre está disponível mas em uma postura parecida com a que assumiríamos com um amigo que está triste. É um ombro amigo.
Permitir que seu filho chore, vai melhorar a relação dele com seus próprios sentimentos e a relação entre vocês. Confie na capacidade da criança e ofereça seu amor. Isso é mais que suficiente.