Nessa ciranda, quem mais sofre, em geral, são as crianças e adolescentes da casa e, pelo bem de seus filhos, os pais devem procurar entender que os papéis são bem separados e devem permanecer assim. Uma esposa é uma coisa, uma mãe é outra, da mesma forma que um marido é uma coisa e um pai é outra.
Um dos erros mais comuns que vejo nesses momentos delicados é um dos pais querer suprir a ausência do outro, na crença de que assim, a criança não sentirá tanto essa mudança. As alterações na legislação também reacenderam discussões pesadas e antigas. Até pouco tempo atrás, era senso comum que os filhos, no caso de um divórcio, ficariam com a mãe. Só se discutia isso quando a mãe tinha algo que desabonasse sua conduta. Entretanto, era comum que um dos pais se afastasse da vida da criança pelo pouco convívio ou pela dominância do outro. A nova lei, que determina que a guarda seja compartilhada por padrão, vem para promover uma mudança de visão sobre o assunto. Ambos são pais e devem ter responsabilidade sobre a criança. Não há mais a divisão: um cria e o outro sustenta. E isso, embora assuste muita gente, é benéfico, sim, principalmente para as crianças.
Mas, então, como lidar com essa situação na prática? Como em quase tudo na criação de filhos, não há uma receita de bolo que funcione 100% das vezes. Tudo depende muito da forma como se deu a separação e da vontade dos dois pais de lidar com isso da forma mais tranquila possível. Mas há dicas que funcionam bem:
- Controle suas próprias emoções. Crianças são muito sensíveis aos sentimentos dos pais. Se um dos pais demonstra tristeza demais ou raiva demais com relação à separação, isso pode fazer com que a criança não queira frequentar a casa ou conviver com o outro, dificultando visitas e gerando rancor. Isso não é fácil de se fazer, mas é preciso pensar sempre no interesse da criança.
- NUNCA brigue na frente dos filhos. Embora as brigas sejam naturais nessa fase (mas não saudáveis), elas nunca devem ocorrer na frente das crianças, pois podem gerar muita ansiedade nos pequenos. Quando sentir que as coisas vão esquentar, diga ao seu (sua) ex que conversem depois e afaste-se.
- Escolha suas batalhas. Nesses momentos de vida, as pessoas muitas vezes focam em coisas pequenas. Ele se atrasou 10 min, ela disse que não pode trazer as crianças, etc. Pense sempre se vale a pena o desgaste por questões pequenas assim. Guarde sua energia para batalhar pelas decisões mais importantes e que terão efeito mais impactante na vida das crianças.
- NUNCA fale mal do outro genitor para seus filhos. Isso gera danos irreparáveis para as crianças. Se o pai ou mãe for mesmo mau-caráter, a criança vai perceber sozinha com o amadurecimento. Não coloque esse peso em uma criança. Também não acoberte. Caso a criança questione sobre a atitude do outro, sugira que ela mesma pergunte, principalmente em casos de promessas quebradas.
- Combinem! Pode ser difícil, mas os pais devem sentar para se conversar. O ideal é que cheguem a um acordo sobre uma rotina que funcione nas duas casas. Claro que sempre serão necessários ajustes por causa dos horários de trabalho de cada um, transporte, etc. Mas, as rotinas devem ser o mais próximas possível. As regras (ou a maioria delas) também devem valer nas duas casas. Essa conversa pode não ser fácil no começo, mas vale a pena.
- Deem o exemplo. Se querem que seus filhos respeitem os outros, tratem-se com respeito.
- Procurem uma convivência harmoniosa. Se possível, procurem estar juntos e presentes nos momentos de grande importância da vida de seu filho. Seja o teatro da escola, aniversário, etc. É muito chato as famílias terem que ter festas separadas para essas situações. Para as crianças é muito melhor que mostrem civilidade e convivam pacificamente.
- Não culpe o outro. Toda separação, seja pelo motivo que for, é de responsabilidade dos dois. É muito comum, quando conversamos com casais separados, ouvir um culpar o outro o tempo todo pela má convivência, pelas brigas, pelos problemas, mas os dois lados têm razão, dependendo do ponto de vista. O certo é que não temos como mudar o comportamento da outra pessoa, e apenas colocar a culpa nela é algo paralisador. Significa que nada vai mudar e que teremos que conviver com essa situação para sempre. O que podemos fazer é mudar o nosso comportamento de forma que isso gere uma mudança de reação no outro. Quando tomamos as rédeas de nossos próprios sentimentos, as transformações realmente começam a acontecer. A mágoa e a tristeza são normais nesses casos, mas eles são também uma oportunidade única de ensinar aos seus filhos o que é resiliência, ou seja, a capacidade de reerguer-se após uma grande dificuldade.