Nos últimos dois posts, falamos  sobre os argumentos contra a palmada e sobre como aplicar a disciplina positiva. Durante toda essa discussão, tenho percebido que os pais que são a favor da palmada, estão se sentindo lesados, perdidos, achando que o Governo está prejudicando a criação dos seus filhos. Então hoje trouxemos depoimentos de mães que decidiram mudar a forma de disciplinar os filhos e descobriram que, apesar de não ser fácil no começo, a mudança é possível e muito benéfica para todos. Afinal de contas, você não bate no seus filhos porque gosta, certo? Então, se há outra alternativa,  por que não tentar?

Se você tentar (ou se já o fez), mande seu depoimento para a gente, pelo depoimentos@sosseguinho.com.br e vamos atualizando o post.

Com a palavra, as mamães:

A minha filha tem 4 anos e é super sapeca. A minha pasciência não é das maiores e a forma que eu lidava com a “sapequisse” da Sophia era no grito e no chinelo. As chineladas não eram para machucar, na verdade usava mais para ameaça. Até que um dia perdi a noção de força e a marca do chinelo ficou em relevo na quela perninha indefesa. Chorei mais que ela. Eu não apoiava a Lei da palmada, por que achava um absurdo pessoas de fora querer me dizer como educar o meu filho e que palmada era muito diferente de espancamento. Comecei a observar a minha casa, a minha filha ouvia muito mais o pai, que não grita e nem pegava o chinelo para ela, e eu mesmo com esses “recursos” era ignorada por ela quando a reeprendia. Depois de ler sobre a lei na Pediatria Radical (grupo no Facebook) fui pensando melhor nas minhas atitudes e “fiz um teste” em casa. Comecei a respirar fundo diante das teimosias da minha filha e a explicar para ela tudo oque estava acontecendo, o por que que eu estava pedindo para ela recolher os brinquedos, o por que ela deveria dormir cedo…. Todos os dias, ao acordar ja faziamos o nosso combinado na cama mesmo: Bom dia meinha linda, hoje sem gritos somente respeito e conversa, certo? ela concordava e saimos da cama. E tem dado certo, quando levantamos da cama e eu não digo nada, ela me lembra… Mamãe, sem brigas, só conversas, certo? Tem dias que preciso contar até 1000, mas já estamos beirando 30 dias de casa sem gritos, choros e estamos bem mais calmos, a qualidade juntos não tem comparação, todos saímos ganhando. 

Vanessa, Mauá-SP

 

Me chamo Suelen, 30 anos e moro em São Paulo. Sou mãe do Guilherme de 3 anos e meio (atualmente). Venho de uma família, onde a cultura é dar um tapinha na mão pra não mexer nos bibelôs, não mexer no fogão e assim por diante. Quando engravidei, disse que não bateria no meu filho, mas não tinha ideia do que era a disciplina positiva. Ele nasceu e eu me apaixonei desde então, começou a andar com 10 meses, mas eu sempre fui instruindo a não mexer nas coisas que não podia e assim foi, sempre “obediente”. Mas ele tinha uma mania horrível de bater no rosto das pessoas, e sempre ficavam na minha orelha: “tira isso dele, que isso é errado, quando crescer vai ser pior e blá blá blá.” Num dia de muito nervoso quando ele me bateu eu revidei. Foi instintivo, pois ouvi algumas histórias de que fulano mordia e quando levou um tapão na boca nunca mais mordeu, de que se você faz o mesmo que a criança faz ela entende claramente que aquilo machuca pois ela vai sentir também e estas histórias assim. Gui foi crescendo, e eu sempre sozinha, fui acumulando meus estresses e minhas frustrações e descontando nele (hoje sei que foi isso pois parei para analisar). Sempre que ele fazia “birra” eu batia, com tapas e alimentava isso com pessoas dizendo: dá três tapa na bunda dele que ele pára eu dava e ele continuava, dá uma chinelada que nunca mais ele faz, eu dava e ele continuava. Já mudei da mão para o chinelo, pois o tapinha (ou palmadinha como queiram chamar) já não estava mais fazendo o efeito, pois começou com um tapinha pra assustar, outro um pouco mais forte, outros eram mais que um ou dois e com muita força de a mão ficar vermelha, ai mudei, toda vez que fazia a birra chinelada na bunda, isso ele só tinha 2 anos. Um dia (o pior dia da minha vida) eu cheguei mega estressada do trabalho e o Gui recebeu toda a minha carga de estresse, raiva, frustração e tristeza. Me irritei com ele de tal maneira que perdi o total controle, peguei o chinelo e comecei a bater nele descontroladamente e marquei a sua perna (é duro ter que contar isso, mas é necessário, pois até hoje me dói a alma). Uma das pessoas que me incentiva a dar a chinelada dele, quando viu a perna do Gui no estado que ficou, faltou me matar, me disse: “era uma chinelada na bunda e não pra espancar o menino”! Eu respondi: “justamente, tá vendo onde nos levou o tapinha de correção, a chinelada de correção, nessa merda de atitude que eu tomei”. Se eu não acordo, meu filho hoje com 3 anos, era capaz de estar apanhando de cinta, pois o chinelo não fazia mais efeito. Desde esse dia eu acordei, eu me vi como no espelho, o reflexo de uma mulher louca, desesperada e sem controle algum sobre suas emoções e estava descarregando ali, num pobre ser de apenas 2 anos e meio, que via em mim, somente em mim seu alicerce e seu exemplo de vida sendo um monstro agressivo. E não eram somente tapas, eram gritos, gritos horrendos, gritos estéricos e sem controle, gritos de raiva onde meu filho me olhava e via-se nitidamente o pavor dele ao me ver assim. Hoje, abaixo na altura dele quando ele está em um momento emocional que nem ele consegue se entender, dou um abraço e vamos conversando sobre aquilo. Muitas vezes, primeiro mudo o foco e depois converso sobre a atitude. Mas eu vejo claramente, que desde que passei a ser mais positiva comigo, a controlar melhor minhas emoções e não descarregar em meu filho e ver que o problema sou eu, aprendi a ter controle sobre as emoções dele. Aprendi a ajuda-lo e não massacra-lo. Pois é isso que ele precisa, ajuda para seguir em frente e controlar suas emoções. Com certeza ele sabe das regras, do que é certo ou errado, pois eu mostro-lhe, dou-lhe direção, não ensino a revidar com agressão e sim com amor, ensino a procurar ajudar quando algo sair do controle, ensino que deve ser educado com as pessoas, ensino que quando não se tem dinheiro não dá pra comprar; os limites necessários são impostos, mas com carinho e de forma clara, batendo, não resolve em nada. Hoje a mensagem que deixo é: “Com certeza a palmada é bem diferente de um espancamento, mas veja, tudo começou com um tapinha e se a consciência não pesa, hoje meu filho seria mais uma vítima de espancamento”.  

Suelen, 30 anos, São Paulo-SP

 

Minha filha já tem 8 anos e desde os dois aninhos dela eu mudei a minha postura. Nunca gostei de usar a violência (sim, eu acho a palmada uma violência)  e a primeira e última vez que dei uma palmada em minha filha foi por total descontrole meu: ela estava fazendo birra no banho e eu com medo dela cair e se machucar dei um tapinha no bumbum dela. Imagina a minha tristeza ao me dar conta que eu, uma pessoa adulta, mais forte que ela, que supostamente deveria ter o controle da situação, me descontrolei e bati em um ser indefeso e muito mais fraco.   Comecei a pesquisar outras formas de educar e posso te garantir que estão dando certo,tudo é combinado e avisado antes, converso com ela desde pequena,claro que já tive muitos momentos em que a vontade de dar um tapa na boca ao ouvir desaforos(aos 7/8 anos eles têm argumentos pra tudo), mas mostro sempre que eu estava sob controle. Não quero ser a mãe perfeita, mas quero ser a melhor mãe para minha filha e isso inclui tratá-la com respeito e muito amor!!

Melissa Machado