Muitas mães me procuram para que possa auxiliá-las no desmame de seus bebês. Nesses casos, várias questões precisam ser avaliadas. Antes de mais nada, peço à mãe que pense por alguns dias nos motivos que a levaram a essa decisão, principalmente quando esse desmame está planejando para antes dos 2 anos de idade.

A OMS recomenda que o aleitamento materno seja exclusivo até os 6 meses de idade e que ele seja mantido até, pelo menos, os 2 anos. Portanto, sempre que uma mãe quer desmamar o bebê antes disso, primeiro avaliamos outras possibilidades.

Muitas coisas podem fazer com que a mãe deseje um desmame precoce. Dentre as mais comuns:

  • Cansaço: muitas mães se sentem cansadas por causa de mamadas noturnas frequentes. Quando é esse o caso, procuramos melhorar os padrões de sono do bebê, de forma que a mãe possa descansar um pouco mais à noite, e desvinculamos a necessidade de amamentar até que o bebê entre em estágios de sono profundos para que a mãe possa amamentar de forma relaxada sem se preocupar em ficar parada ou em posição que não acorde o bebê ao colocá-lo no berço.
  • Muito apego: algumas mães se sentem sufocadas porque seus bebês não querem ficar com outras pessoas e acabam associando esse fato à amamentação. Se esse é o seu caso, saiba que algumas crianças são mais dependentes do que as outras e isso não é necessariamente um problema, nem deve melhorar com o fim da amamentação. Você pode estimular a independência do seu filho e ainda manter a amamentação. Não faça tudo por seu bebê. Deixe que, aos poucos, ele vença a vontade de estar junto com você o tempo todo, através do desejo de explorar. Pense em como você faria as coisas se não estivesse amamentando e faça. Não são os 10 minutos que uma criança um pouco maior leva mamando que vai deixá-la dependente. Essa dependência vem, provavelmente, da mãe superproteger ou não dar o tempo necessário para que o filho decida sair de perto. Um exemplo prático é seu filho ver um grupo de amiguinhos brincando. Ele quer ir, mas quer que você vá junto. Uma das formas de estimulá-lo é ficar por perto, mas não ir até o grupo. Diga a ele que pode ir e que ficará ali, em seu campo de visão. No começo ele vai relutar, mas você pode acolhê-lo e esperar que decida ir brincar. Logo, ele tomará confiança de que sempre poderá voltar para você e ficará mais tempo longe.
  • Mamadas o dia todo e alimentação pobre: outra coisa que angustia as mães é precisar estar disponível o tempo todo porque a criança mama por curtos intervalos várias vezes por dia, o que pode também prejudicar a alimentação, já que a criança não sente fome na hora de almoçar ou jantar. Nesses casos, eliminamos as mamadas que ocorrem por tédio. Estas são as que a criança pede simplesmente porque não tem nada para fazer. Ela pode estar assistindo televisão, ou sozinha há algum tempo, e sente necessidade de proximidade. Nesse momento ela pede para mamar. O interessante nessa hora é chamar a criança para fazer outra coisa. Para brincar, passear etc. Nesse momento, você vai estar suprindo uma necessidade que o bebê acredita ser a mamada e, então, ele “esquecerá” essa mamada. Depois de um tempo, os pedidos ficam menos frequentes e a mãe passa a ter mais liberdade.

 

Quando, mesmo após essas considerações, a mãe ainda está determinada a desmamar completamente o bebê, podemos fazer isso da forma mais respeitosa possível. O processo leva por volta de 30 dias sem traumas e desconfortos.

 

1ª Etapa: redução da necessidade de mamadas

É preciso criar uma rotina que faça com que o bebê peça menos para mamar. Isso inclui planejar as brincadeiras, oferecer contato físico para a criança sem que ela precise pedir e não esperar que fique com muita fome para alimentá-la. Em cerca de 10 dias, a criança deve estar menos dependente dessas mamadas ao longo do dia. Em geral, mantemos 3 mamadas para as crianças com mais de 1 ano e 3 meses. Uma ao acordar, uma cerca de 2 horas depois do almoço e uma antes de dormir.

 

2ª Etapa: substituição das mamadas

Uma vez que a criança já esteja acostumada com as três mamadas em horários mais ou menos definidos, é hora de começar a substituí-las gradativamente. A melhor mamada para ser a primeira é a da tarde. Em geral, é a que a criança menos pede, mas você pode eleger sua preferida. Nesse horário, você vai oferecer um copo do leite da sua escolha ou um lanche ao invés da mamada. Normalmente, eles aceitam bem. Depois de alguns dias, você pode substituir a mamada da manhã e, por fim, a da noite. Com essa diferença de dias entre a retirada das mamadas, evitamos que a criança fique estressada por perder de uma vez o contato com o seio materno e que a mãe fique com dor nos seios, tornando o processo mais tranquilo para os dois.