No post passado (você pode ler aqui), falamos dos motivos pelos quais os pais costumam justificar as palmadas que dão em seus filhos. Mas, como muitos perguntam como educar se não pudermos dar palmadas, o post de hoje é dedicado a essas alternativas. Em minhas consultorias, costumo ajudar os pais a implantar a Disciplina Positiva na educação de seus filhos. Em geral, vejo que existem dois conceitos que precisam ser mudados antes de mudarmos a forma de lidar com os problemas de disciplina das crianças:
Seus filhos não têm que ser obedientes.
É muito comum os pais quererem crianças super obedientes que atendem às suas ordens de primeira e sem questionar. Isso é bem distante da imagem do adulto que queremos criar certo? Sempre pergunto nas palestras de disciplina, antes de mais nada, que tipo de adulto queremos criar, afinal, isso é crucial na escolha do tipo de educação que vamos dar, certo? As respostas dos pais incluem um adulto: pró-ativo, crítico, decidido, coerente e responsável. Será que alguém que foi ensinado a vida toda a ser obediente vai, em algum momento mágico, aos 20 e poucos anos, adquirir essas características? É óbvio que não podemos deixar as crianças tomarem grandes decisões desde cedo, simplesmente porque não entendem as consequências dessas decisões mas, é importante que elas aprendam a questionar e a tomar pequenas decisões desde cedo. Se queremos preparar as crianças para a vida, as consequências que aplicamos aos seus atos devem ser, sempre que possível, parecidas com as da vida adulta. Já vamos falar disso para deixar mais claro.
Seus filhos precisam confiar em você e não, ter medo. Quando batemos nas crianças ou gritamos com elas, o que elas sentem é medo, não respeito. Isso faz com que mintam quando fazem alguma coisa que acham que é errado, simplesmente por não querer apanhar. Lembre-se da sua infância. Se você apanhava, é provável que procurasse ajuda e conselhos de outras pessoas, que não seus pais. É muito comum que procurem avós, tios ou amigos que nos recebiam para um diálogo mais aberto, certo? Agora pense quem você gostaria que seu filho procurasse para esses “papos”? Eu sei que prefiro que minhas filhas procurem a mim. Isso não quer dizer que você deva ser “amiguinho” do seu filho e deixar que ele faça tudo o que quiser. Como eu já disse antes, eles precisam saber que seus atos têm consequências mas, precisamos pensar bem antes de aplicar essas consequências para sermos o mais justos possível.
Mas afinal, como aplicar a disciplina positiva?
Nunca minta!
Se você não quer que seu filho minta para você, não minta para ele. Nem as pequenas mentirinhas do tipo “acabou o biscoito”ou “não vai doer” Você é o exemplo absoluto para seu filho, sua maior referência. Se você mentir para ele, quem vai ensinar a verdade? O que vai fazer seu filho não ir onde não deve, por exemplo, é a confiança de que, se você disse que ele pode se machucar, isso é verdade. Se você mente, ele vai questionar tudo que você falar. Pode parecer mais fácil, contar uma mentirinha de vez em quando para não aguentar uma birra mas, o que você estará ensinando é a mentir para se livrar de uma brinca. Afinal, não é a mesma coisa?
Supra (todas) as necessidades do seu filho
Uma criança cansada, por exemplo, será sempre muito mais birrenta do que uma criança que dorme bem. Isso porque é natureza humana. Nas consultorias em que a queixa é de agressividade, por exemplo, essa, quase sempre se dá a partir das 16 horas, quando crianças pequenas já estão ficando cansadas, principalmente se não dormem bem à noite ou não fazem os cochilos pertinentes a sua idade.
Outra necessidade frequentemente negligenciada é a de contato físico. Desde pequenos eles têm o colo negado sobre o argumento de que ficarão mal acostumados quando todos os estudos de psicologia que conheço desde a década de 40, apontam que a presença e o colo da mãe conferem a confiança necessária para que a criança explore o mundo. Dê sempre muito contato físico e carinho a seu filho. Se ele está manhoso, é provável que esteja ganhando pouco colo ou, ganhando colo apenas quando chora.
Coloque-se no lugar da criança
Por mais clichê que possa parecer, essa é a parte mais importante da Disciplina Positiva. Se você não sabe o que fazer com relação ao comportamento da criança, pense o que você teria como consequência se não cumprisse uma determinada regra. Alguns exemplos:
Seu filho derramou suco no chão depois de você ter dito a ele que não devia andar pela casa com o copo. Se um adulto fizesse isso, teria que, certamente, pegar um pano para limpar, certo? Perfeito! Você explicará, calmamente, ao seu filho que, como acabou sujando o chão, a atitude correta é deixar tudo limpo e, claro que, dependendo da idade doa criança, você precisará ajudá-lo.
Seu filho está tendo um acesso de raiva. Pare e pense. Quando você está com raiva, adianta alguém gritar, segurar você ou discutir algo? Não! Então, como agir? Fique calmo. Se precisar de alguns segundos, pare tudo e respire fundo. Quanto mais calmo você ficar, mais rápido tudo vai passar. Depois abaixe-se perto da criança e diga que entende que ela está com raiva e que vai esperar ela se acalmar para poderem conversar. E espere. Quando a raiva passar, ele vai acalmar e você pode explicar a situação. Sim, seu filho pode sentir raiva de você mesmo depois de tudo que você fez por ele. Todos já sentimos raiva de nossos pais. O importante é que ele, aos poucos, aprenda a controlar os próprios sentimentos.
Seu filho atirou um brinquedo contra a parede ou pela janela e ele quebrou. Qual a consequência que um adulto sofre ao quebrar seus objetos, seja de propósito, ou não? Fica sem, ou tem que comprar outro. Com as crianças, deve-se fazer o mesmo. O que não significa que você não pode consolá-lo pela tristeza de ter perdido seu brinquedo. O papel dos pais é sempre dar apoio emocional para que seus filhos assumam seus atos.
Seu filho foi brincar sozinho no condomínio e fez alguma besteira (essa acontece bastante por aqui). A consequência é ficar alguns dias sem poder sair sozinho para brincar, ficando o tempo de brincadeira na rua limitado à possibilidade de um adulto ficar junto. Não é castigo mas, uma consequência natural. Se não tem maturidade e discernimento para ir sozinho, precisa supervisão. Claro que dá mais trabalho do que uns gritos, palmadas ou castigo trancado no quarto mas, é mais lógico e, portanto, mais educativo. Afinal, se no meu trabalho começo a cometer erros, é provável que coloquem alguém para supervisionar minhas ações, correto?
Ensine a criança a colocar-se no lugar dos outros
Da mesma forma que você deverá se colocar no lugar da criança, é preciso que ela também saiba fazer o mesmo. Quando uma criança bate em alguém, deve-se perguntar a ela o motivo dessa agressão. Dado o motivo, deve se perguntar se ela gostaria que fizessem o mesmo com ela. Um dos melhores argumentos é a se usar é “aqui tratamos os outros com carinho porque é assim que todos merecem ser tratados”. Claro que, se você bate nas crianças, todos esses argumentos são falhos.
Quando a criança faz bagunça em um restaurante, você pode chamá-la e calmamente mostrar quantas pessoas estão à sua volta comendo e conversando. Quando ela olhar, explique que não devemos falar alto, gritar ou correr em locais assim para não atrapalhar os outros. Crianças esquecem com frequência e sobem novamente o volume da brincadeira mas, depois que explicamos, costuma bastar uma chamada de longe mesmo e um sinal de silêncio para que lembrem.
Ensine seu filho a dar sempre seu melhor, não a ser o melhor
É comum os pais acharem que os filhos devem sempre tirar as melhores notas em tudo, ser o melhor nos esportes, etc. Mas, a verdade é que ninguém é o melhor em tudo. Se você ensinar seu filho a fazer o melhor que pode, em todas as situações, ele indubitavelmente, ser o melhor (ou um dos melhores) em alguma coisa. Afinal, todos temos algum talento. Em muitas escolas, por exemplo, ouvimos tudo aquilo que nossos filhos fazem de errado. Preste atenção a isso. Pergunte aos professores o que ele faz bem. Incentive essas atividades. Isso vai melhorar a autoestima do seu filho e melhorar seu comportamento. Como fazer isso? Principalmente elogiando o esforço do seu filho nas suas atividades ao invés de elogiar sua beleza ou inteligência (que seriam características natas). Tudo que é elogiado, é reforçado. Seu filho tenderá a se esforçar sempre. Não recrimine quando o resultado não for perfeito. Por exemplo, se você pediu a seu filho que arrumasse o quarto e não ficou tão bom assim, elogie seu esforço e ajude-o a terminar mostrando o que faltou fazer.
Seja firme mas, carinhoso
Limites se chamam limites por um motivo. Eles não devem ser cruzados por motivos de saúde e segurança mas, isso não significa que as coisas precisem ser ríspidas. Seu filho já tem 2 anos e não quer ir dormir antes de meia noite. É claro que ele não quer. Ele quer brincar, descobrir o mundo, viver a vida. Mas sabemos que dormir 6 ou 7 horas é muito pouco para uma criança desse tamanho. Então, quando form a hora, leve-o para o quarto, leia uma historinha e dê boa noite. Se ele chorar, gritar, brigar, entenda que não é nada demais. Eles está manifestando sua insatisfação. Diga que você entende mas, que é hora de dormir e que no dia seguinte brincarão mais e fique ao seu lado, consolando. Em alguns dias ele acostumará com a nova rotina e os novos limites e não brigará mais. Tudo isso sem trancar a criança, bater, gritar ou castigar. Essa mudança de postura vai exigir que você tenha paciência com seus filhos mas, não é esse um dos deveres dos pais? Desenvolver essa paciência vai ser um dos seus maiores desafios se você quer mudar alguma coisa.
Assuma seus erros
Todos nós perdemos a paciência e se você bate em seu filho hoje, pode ser que você tenha uma recaída. O importante é saber que não foi seu filho que irritou você. O descontrole é seu, afinal, você é o adulto que deveria ter melhor posse dos seus próprios sentimentos. Se você gritou ou bateu, peça desculpas para seus filhos. Grande parte de ensinar seu filho a assumir os próprios erros, é assumir os nossos.
Evite o Não e dê atenção ao que realmente importa
Imagine-se me um lugar onde tudo é proibido. Não seria agradável, certo? Então não faça isso com as crianças. Ao invés de dizer “Não pule no sofá”, diga “Desça daí, amor. Brinque no chão.”Ao invés de “Não pegue isso na prateleira do mercado”, “Olha, querido, segure isso aqui para me ajudar”.
Essa é uma das coisas mais difíceis no início porque estamos muito acostumados a dizer “não”. Tanto que muitas crianças falam “não” o tempo todo e para tudo.
Evite também dar muita atenção a comportamentos errados. As crianças querem atenção e se contentarão com qualquer tipo que consigam. Portanto, quando fizerem algo errado, explique a consequência, aplique-a e não fique mais falando sobre isso. Em compensação, elogie publicamente quando se comportarem bem. Ofereça contato físico e carinho como “recompensa” e você começará a ver seu filho tentando chamar sua atenção pelo que faz de correto.
Como começar?
Agora que já falamos de alguns pontos básicos da disciplina positiva, você pode estar pensando e como começar. Tudo depende da idade do seu filho. Se ele ainda é bem pequeno (até uns 3 anos de idade), em geral, basta começar! Em poucos dias você já começa a sentir a mudança de comportamento. Com os que são um pouco maiores, converse rapidamente sobre como não quer mais bater e quer que se tratem com mais carinho e amor. Depois disso, mude mas não cobre que ele mude imediatamente. Crianças maiores já tem um padrão de comportamento estabelecido. Ou seja, se recebiam atenção ao fazer bagunça ou birra, a tendência nos primeiros dias é acentuar esses comportamentos para ver se conseguem chamar sua atenção. Não é nada pessoal e não está fazendo isso para irritar você. Aguente firme e logo começarão a ver a mudança, nesse caso, linda, mas, um pouco mais lenta.
No próximo post, leia depoimentos de pais que usavam palmadas e mudaram de estratégia