A privação de sono é muito romantizada na maternidade. É comum ouvirmos ainda na gravidez que nunca mais dormiremos, que devemos fazer “bancos de horas de sono”. Depois que o bebê nasce, não faltam pessoas que nos digam que precisamos acordar 15 vezes por noite para amamentar ou para atender o bebê e, pior, que isso pode perdurar por muitos anos. Embora essa romantização seja linda em teoria porque coloca mães no lugar sagrado de quem abdica de tudo em prol dos filhos, será que a ciência concorda?
Já falamos aqui que estudos comprovam que intervenções no sono de bebês podem gerar uma melhora no seu aprendizado e comportamento (https://www.youtube.com/watch?v=diuka9Q33Ko), que diminuem os sintomas de ansiedade e hiperatividade (https://www.youtube.com/watch?v=Zop1mVUUHjY), que melhoram sintomas de depressão nas mães.
Mas há também estudos que mostram que a privação de sono pode interferir com funções mais complexas do cérebro, como a empatia.
Empatia é compreendida como a capacidade de um ser humano conseguir interpretar o estado de espírito do outro e de compreender seus sentimentos. Isso envolve a interpretação de expressões faciais e corporal e a habilidade de correlacionar suas próprias experiências com as dos outros. Mas o que acontece quando a pessoa está em estado de privação de sono?
Um estudo realizado por Killgore em 2008, pesquisou sobre a autopercepção de inteligência emocional de pessoas privadas de sono por 55 horas. Reparem que essa provação não é de nem 3 dias completos. A maior parte das mães que chega até a Sosseguinho, vem com entre 6 meses e dois anos de privação, sendo que grande parte dorme apenas 2 horas seguidas. Através do questionário de Cociente Emocional, chegaram à conclusão que as pessoas privadas de sono tiveram pontuação menor, representando uma pior inteligência emocional global.
Uma análise mais detalhada mostrou que há redução de funções intrapessoais (diminuição de autocuidado, assertividade, senso de independência), de funções interpessoais (redução da empatia para com os outros e da qualidade de relações interpessoais), e redução nas capacidades de lidar com estresse (controle de impulsos e dificuldades para postergar gratificação).
Outro estudo (Guadagni et al. 2014) mostra que uma noite de sono perdida já afeta nossa capacidade de compartilhar do estado de espírito dos outros.
Estudos também mostram que privação de sono leva a redução de otimismo e sociabilidade (Haack and Mullington 2005).
Esses estudos confirmam a necessidade de realizar uma anamnese do sono dos clientes que chegam também com problemas de disciplina. Alguns pais me procuram porque a convivência em família está muito complicada e querem melhorar a relação com os filhos e estranham quando começo a perguntar sobre a qualidade do sono de todos. Faço isso primordialmente por dois motivos:
1. será impossível disciplinar uma criança que está cansada. Se a criança não dorme bem, não vai assimilar bem novas regras, não vai ter comportamentos mais autônomos e estará muito mais propensa a birras e disputas.
2. pais cansados estão mais propensos a ceder para ter paz ou serem autoritários para estancar um comportamento irritante das crianças, o que gera instabilidade e deixa a criança insegura.
Os pais precisam estar bem emocionalmente e cognitivamente para conseguirem ser empáticos e pacientes com os filhos, criando assim um ambiente familiar mais saudável e positivo. Qualquer orientação para as famílias precisa ter um olhar completo sobre a saúde e dinâmica familiar. Quando tentamos agir apenas sobre um determinado comportamento, é provável que atuemos sobre o sintoma, deixando a causa para baixo do tapete, o que, quase que invariavelmente, vai fazer com que novos sintomas apareçam.
Romantizar a falta de sono é de uma crueldade sem tamanho com as mães que acabam com sua saúde mental e emocional, sem estar efetivamente gerando qualquer benefício a seus filhos. Bebês precisam, sim, ser alimentados à noite por um certo tempo mas nem um recém nascido precisar acordar mais do que 4 ou 5 vezes por noite e uma criança com um ano já tem condições de dormir durante toda a noite.
Referências:
Killgore WDS, Kahn-Greene ET, Lipizzi EL et al (2008) Sleep deprivation reduces perceived
emotional intelligence and constructive thinking skills. Sleep Med 9:517–526
Guadagni V, Burles F, Ferrara M, Iaria G (2014) The effects of sleep deprivation on emotional
empathy. J Sleep Res 3:657–663
Haack M, Mullington JM (2005) Sustained sleep restriction reduces emotional and physical wellbeing. Pain 119:56–64
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